Complicações devidas às causas específicas de infertilidade não relacionadas à gravidez

Há algumas causas conhecidas de infertilidade que podem afetar diretamente o bom andamento da gestação da gestação.

Pacientes com perda de peso relacionada à amenorreia (falta da menstruação por mais de 1 ano)

É ausência de menstruação associada a distúrbios alimentares (isso pode acontecer com qualquer mulher com peso muito baixo antes de engravidar). Nesse grupo há maior risco de retardo de crescimento intrauterino (RCIU), parto prematuro e todas as suas consequências neonatais (bebês prematuros), além das consequências psicológicas a longo termo determinadas pela própria desordem psicológica materna não corrigida.

Deve-se tentar corrigir a causa da amenorréia com medidas dietéticas e psicoterapia para restabelecer o peso normal e o estado mental normal antes da gravidez.

Pacientes com ovários polimicrocísticos (PCO ou SOP ou SOMP) que apresentam insulino-resistência

Nesse grupo há tendência para intolerância aos carboidratos e lipídeos, com distúrbios dos ácidos graxos, aumentando os riscos de desenvolvimento de Diabetes e Hipertensão, que podem aparecer pela primeira vez na gestação. Cerca de 10 a 20% das pacientes PCO têm ciclos ovulatórios e distúrbio hormonal menos severo, mas apresentam o mesmo risco anteriormente citado. Esse grupo de pacientes apresenta maior risco de abortamento.

É importante ressaltar que essas pacientes apresentam resposta excessiva à estimulação ovariana com risco aumentado para a Síndrome de Hiperestimulação Ovariana (SHO) e Gestação Múltipla.

Ovários Policísticos (PCO ou SOMP) podem estar associados a produção excessiva de Androstenediona (A2) e hormônio luteinizante (LH).

Tulppala (1993a) encontrou PCO ou SOMP em 44% das pacientes de um grupo com aborto recorrente. Essas pacientes tinham total ausência de outros sinais ou sintomas característicos da SOMP, isto é, não havia aumento de pelos – hirsutismo – nem acne ou ciclos irregulares e/ou níveis excessivos de LH. No entanto, 20% delas tinham aumento dos níveis de Androstenediona (um hormônio masculino produzido pelas glândulas adrenais e/ou ovários), e desse grupo, as que conceberam novamente, 83% abortaram. Tulppala (1993b) encontrou que 23% das pacientes com aborto recorrente desenvolveram intolerância á glicose quando se tornaram grávidas novamente.

Não há evidências diretas de que o aumento desse hormônio masculino – androstenediona (A2) – é causa de aborto. No entanto se a qualidade do oócito é um fator determinante da implantação, sabemos que um folículo com alta concentração de A2 entra prematuramente em atresia (atrofia ou desaparecimento ou morte precoce). Isso acontece tanto com o oócito quanto com as células da granulosa – células protetoras do óvulo.

Se o excesso de produção de A2 e LH são causas de subfertilidade e aborto em pacientes com PCO ou SOMP, sua supressão com medicamentos chamados análogos de GnRH (análogos do hormônio liberador de gonadotrofinas – GnRH-a) deveria melhorar o prognóstico da gravidez. Estudos controlados de pacientes subférteis com ou sem abortos de repetição, tratadas com GnRH-a através de supressão do LH excessivo, revelaram melhoras nas taxas de aborto de 39% e 55% para 10% e 18%, respectivamente (Balen, Homberg – 1993).

Esses estudos são clássicos e nos mostram a importância de fazer a avaliação adequada da paciente, antes de indicar qualquer técnica de reprodução assistida, pois disso também depende o sucesso do tratamento.

Idade da paciente (idade dos óvulos)

Após os 35-40 anos há um declínio evidente da fertilidade em decorrência tanto da diminuição da quantidade quanto da qualidade dos oócitos. Após os 37 anos há aumento da frequência de anomalias cromossômicas, diminuição da taxa de implantação e aumento das taxas de aborto. Todos esses fatos estão intimamente relacionados com a aceleração na taxa desaparecimento dos oócitos no ovário (atresia acelerada), quando o número de folículos remanescentes em cada ovário está abaixo de 10 mil (isso acontece por volta dos 37 anos).

As causas da atresia acelerada se relacionam com o período prolongado de repouso do óvulos durante a meiose (divisão celular do gameta feminino) o que torna o oócito vulnerável à idade e às influências ambientais. As hipóteses mais aceitas atualmente que explicam essa morte precoce dos óvulos são:

1 – Oócitos já envelhecidos dentro dos folículos (estruturas semelhantes a pequenas bolhas de água que contêm os óvulos em seu interior) de mulheres com mais de 40 anos sofreriam alterações na divisão celular (não-disjunção na meiose, não separação dos cromossomas) com consequente produção de óvulos defeituosos, com número a mais ou a menos de cromossomos (nos quais está contido o nosso DNA) o que influenciaria diretamente na qualidade do embrião. Esses embriões seriam geneticamente anormais e, portanto, incompetentes para implantar ou gerar um ser humano saudável.

2 – Oócitos defeituosos são assim desde o início e, por possuírem defeitos, não são recrutados (escolhidos para a ovulação), a não ser no período em que o reservatório de oócitos normais está em franco declínio (Zherg e Byers, 1992). Esse modelo explicaria o aumento exponencial de anomalias genéticas afetando gestações de mulheres acima de 37 anos. Essas mulheres poderiam ter uma reserva diminuída de óvulos normais, onde predominariam oócitos com defeitos cromossômicos.

Isso implica também que mulheres com menopausa prematura (antes dos 40 anos de idade) ou precoce (inclusive iatrogênica – ou seja, provocada, por exemplo, por cirurgias ou quimio/radioterapias) têm os mesmos riscos de declínio da fertilidade, abortos e anomalias congênitas que as mulheres com mais idade.

Brook et al, 1984 estudando a ooforectomia unilateral (retirada de um dos ovários) em ratos demonstraram o encurtamento da vida reprodutiva e aumento precoce do número de alterações cromossômicas dos embriões (aneuploidias) formados a partir dos óvulos do ovário remanescente.

Aqui fica um conselho importante dados pelo doutor Robert Edwards (o idealizador da FIV):

…..As pacientes não devem retardar a gravidez e o médico não deve perder muito tempo na investigação e solução da infertilidade em pacientes acima dos 35 anos. Nesse grupo de pacientes o único problema pode ser a limitação da qualidade dos óvulos…..

Na paciente mais jovem (com menos de 35 anos) devemos considerar as de risco para alterações cromossômicas em seus bebês (aneuploidias):

  1. Presença de Falência Ovariana Prematura (FOP) mesmo que oculta, ou seja sem sintomas evidentes de menopausa precoce, como ausência de menstruação, fogachos (ondas de calor), depressão, etc.
  2. Pacientes submetidas à cirurgia pélvica com remoção do ovário ou grande parte dele (endometriose ou endometriomas, abscesso tubo-ovárico – por infecção pélvica grave).

Compartilhe

Facebook
Twitter
LinkedIn
Email
WhatsApp

Você pode se interessar:

Endometriose doença da mulher moderna

Endometriose: doença da mulher moderna

A endometriose, doença crônica e inflamatória, é uma das principais causas de infertilidade em mulheres na contemporaneidade. Esta condição a atinge cerca de 15% das pacientes em idade reprodutiva, com até 50% delas enfrentando problemas para engravidar, essa doença complexa

Leia mais
Como seu corpo se prepara para o parto

Hora do Parto: como seu corpo se prepara?

À medida que você se aproxima do emocionante momento do parto, seu corpo sutilmente começa a mostrar sinais de que o encontro com o seu bebê está no horizonte. Vamos explorar esses indícios que podem acender a expectativa para a

Leia mais